Manuel Fernandes: «Não se pode exigir mais a Paulo Bento» |
Sexta, 14 Agosto 2009 22:00 | |||
Pelo que tem visto na pré-temporada, qual é a equipa que considera ter maiores probabilidades de ganhar o Campeonato?
"Se nos referirmos à primeira parte da pré-época, o FC Porto. Na segunda fase, talvez o Benfica... O meu Sporting está mais atrasado, mas no futebol tudo é possível".
Pensa que o facto do FC Porto emprestar jogadores sem limite a outros clubes da Liga pode desvirtuar a verdade desportiva?
"Não creio que a verdade desportiva esteja em causa. Pode é tornar mais fácil ou mais difícil a vida dos clubes com menos recursos, porque quem tem relações privilegiadas pode receber outro tipo de jogadores".
Quem será o jogador revelação na nova época?
No Sporting, acredita num Bettencourt à imagem de
um João Rocha, eclético e ganhador, capaz de mobilizar a onda verde e
branca por todo país?
"O Sporting não tem as modalidades que tinha, mas manteve as mais tradicionais. Bettencourt gosta muito do Sporting. Lembro-me do meu tempo de jogador, em que ele, como Miguel Ribeiro Teles e Ferreira de Lima, sofria muito pelo clube. Os três sofriam muito pelo Sporting. Espero que ele tenha sucesso. Há uma coisa que ele nunca pode descurar: a equipa. Os sportinguistas gostam muito de ganhar. Podemos não ter a capacidade económica dos outros, mas gostamos muito de ganhar".
Como classifica o seu colega Paulo Bento? Acha que
é bom treinador ou é uma pessoa muito limitada porque utiliza sempre a
mesma estratégia jogue contra quem jogar?
Acha que o
campeonato português pode competir com outros campeonatos, com a falta
de compromisso e de rigor dos dirigentes que temos?
"Não sei se é falta
de compromisso e rigor. Os clubes grandes têm mais condições, mas os
pequenos passam por problemas económicos. Há mais empresários hoje do
que jogadores e treinadores, o que complica tudo. Antes, havia um rol
de empresários que tratava das coisas com alguma elevação e
profissionalismo. Dou um exemplo: este defeso tive de ver mais de 300
vídeos! Acha possível ver 300 vídeos? Só se não fizesse mais nada...
São coisas impensáveis. Há uma pressão muito grande. Não tenho nenhum
empresário para trabalhar, mas trabalho com todos. Só peço jogadores
que se enquadrem naquilo que preciso, porque não faço favores a
ninguém".
Pelo facto de este ano todos os treinadores da Liga Sagres serem portugueses, tal significa que estes são dos melhores do Mundo?
Como se sentiria se para a União permanecer na
primeira divisão tivesse que ganhar ao seu Sporting, impedindo-o assim
de ser campeão?
"Não era a primeira vez que ganhava ao Sporting. Já o fiz pelo V. Setúbal e Santa Clara. Sou um grande sportinguista, mas acima de tudo um grande profissional."
"O Jorge jogou um ano comigo no Sporting, vinha dos juniores. No ano seguinte saiu. Mas era um médio que tinha qualidade e um bom miúdo. Aqui há dias liguei-lhe e chamei-o pelo nome com que o tratávamos no balneário do Sporting e ele ficou espantado..."
Manuel Fernandes: «Dois jogadores meus podiam jogar no Sporting»
Está convicto de que o Leiria é o clube certo para projetar a sua carreira?
"Todos os clubes onde eu esteja podem ser certos para o fazer. Estou muito feliz em Leiria, conseguimos uma subida histórica e estamos de regresso à Liga. Agora, é trabalhar para sermos a melhor das nove equipas que lutam para não descer".
Um convite para voltar a treinar o "seu" Sporting seria
suficiente para interromper o seu trabalho na União de Leiria? Tem
alguma cláusula no contrato prevendo uma situação desse género?
"Não há qualquer cláusula desse tipo, nem nunca houve. Só saí do Santa Clara para o Sporting, em 2001, porque os dirigentes do Santa Clara o permitiram".
Como é lidar
com uma equipa de futebol que tem o seu estádio constantemente despido
de público? Os jogadores não sentem falta desse apoio?
"A subida de divisão
da época passada mostrou que as pessoas de Leiria gostam de futebol. Na
parte final do campeonato tivemos o estádio cheio e uma recepção
inesquecível. Espero que essa motivação se mantenha para a nova
temporada, porque os jogadores também gostam de sentir o carinho dos
adeptos".
Deve um
treinador ter um modelo de jogo e "encaixar" os jogadores nesse modelo
ou, pelo contrário, olhar para as características dos jogadores e
adaptar o modelo ás suas qualidades?
Alexandre Martinho, Torres Novas
"Nunca tenho apenas um modelo. Tenho sempre uma ou duas alternativas, porque tudo depende dos jogadores que temos à nossa disposição. Elogio e aprecio sempre os atletas com quem trabalho. Para mim são os melhores. E talvez por isso, às vezes deixe de contratar um ou outro jogador, porque penso sempre que tenho os melhores..."
Define a difícil subida da União de Leiria como o maior feito da sua carreira? Rui Gageiro, Famalicão da Nazaré
"O empate em Olhão [0-0]. Apesar de termos ficado abaixo da
‘linha de água', não perdemos e ganhámos motivação. Esse foi o único
jogo da minha carreira em que joguei mais defensivamente. Não queria
perder. Houve vários momentos marcantes, como o jogo na Covilhã [3-2].
Ainda tivemos o desaire em Oliveira de Azeméis [1-2], mas acreditei
sempre que o Santa Clara não passava
Porque razão é que o Leiria não aposta mais nos jogadores oriundos da sua formação?
Não acha que
a constante chegada e partida de jogadores para "mostrar serviço" e a
título experimental, poderá destabilizar o grupo?
Espera jogar ao ataque, mantendo sempre a mesma
filosofia de jogo ao longo do campeonato, ou vai montar o "autocarro"
quando jogar contra os grandes?
"A minha forma de estar no futebol não vai mudar. Sabemos que temos de fazer um somatório de pontos que nos deixe na Liga, mas não vamos alterar a táctica. Podemos alterar um ou outro jogador, mas não de sistema, até porque os meus atletas enquadram-se bem no meu sistema de jogo".
"Não afectou, porque não fui contra o clube. Fui contra uma pessoa [Vítor Pereira] que colocou em causa a minha capacidade de trabalho. Nunca estive contra o povo açoreano, nem contra o Santa Clara. Se havia dúvidas sobre a nossa superioridade, os jogos que deram na televisão foram elucidativos. Houve dois jogos nossos, enquanto o Santa Clara teve uns dez. E comprovou-se que éramos melhores".
Alguma vez se arrependeu de treinar uma equipa?
Qual foi a equipa que lhe deu mais prazer treinar? E porquê?
Durante
o tempo que passou em Angola o que achou do futebol angolano e o que
aconselharia aos nossos dirigentes desportivos para melhorar o nosso
futebol?
"Angola foi, para mim, uma escola da vida. Estive lá dois anos a trabalhar com jogadores espectaculares, que tratei com muito carinho. Angola tem potencialidades extraordinárias em termos de jogadores. O que falta em Angola são bons campos. Com a CAN, isso vai melhorar e o jogador angolano vai evoluir muito".
Já conseguiu subir 3 equipas ao principal escalão do futebol português.Qual é a sua fórmula mágica? Pedro Eduardo, Braga
"Não foram três, foram quatro: Campomaiorense, Santa Clara, Penafiel e U. Leiria. E o Santa Clara foi quase duas vezes. Não há fórmulas mágicas. Acima de tudo, tenho um grande conhecimento desta divisão e, por outro lado, há muitas equipas que não exploram um aspeto importante: eu tenho vídeos de todos os adversários e quando não os tenho, há sempre alguém da minha confiança que faz observações, para ir bem identificado. Além disso, o sistema que privilegio, o 4x4x2 losango, dá mais aproveitamento no ataque, permitindo aos pontas-de-lança fazer mais golos".
Manuel Fernandes: «Se tivesse aceite Benfica estaria melhor economicamente»
Como foi a sensação de jogar ao lado de
Jordão num clube como o Vitória de Setúbal, treinado então pelo
irreverente Malcom Allison? Que recordações guarda da sua passagem pelo
Vitória, da parceria com Jordão e do treinador inglês?
"Foi extraordinário. O Allison foi para o Vitória porque eu o indiquei ao meu grande amigo Fernando Oliveira, que voltou recentemente à presidência do Vitória. Ele perguntou-me por ele e eu disse: ‘Nem penses duas vezes. Vai buscá-lo!. A ele e ao Meszaros' Estavam na 2.ª Divisão e subiram logo. Depois, o Fernando Oliveira soube do meu problema com o treinador do Sporting, aproveitou-se disso e contratou-me. O meu segundo clube vai ser sempre o Vitória. O primeiro é o Sporting. Jogar com o Jordão em Setúbal foi fantástico, porque ele tinha estado parado um ano e quando jogámos juntos, fizemo-lo em grande estilo. Ainda tive o prazer de treinar o Jordão e recordo-me que ele fez uma época muito boa, ao ponto de voltar à Selecção. Jogávamos futebol de muita qualidade. Estive cinco épocas no Vitória e foi extraordinário. Foi das melhores coisas da minha vida: jogar no meu Sporting e terminar a carreira de jogador e iniciar a de treinador no clube mais representativo do meu distrito".
Teve convites para sair para algum grande clube europeu quando jogava no Sporting?
Algum dia, no
futebol português, voltaremos a ter um futebolista da sua estirpe, com
amor verdadeiro pelo clube que representa e em que é a palavra e um
aperto de mão que sela o contrato de trabalho com o mesmo?
João Coutinho, Lisboa "Nos tempos que correm, não é fácil. O jogador, hoje em dia, é mais materialista, vê mais o factor económico. Mas não o censuro. No meu tempo não havia empresários... Tive vários convites do Benfica, onde ia ganhar muito mais dinheiro, mas nunca aceitei. Não me via com aquela camisola vestida, porque adorava o Sporting. Se eu tivesse aceite, estaria muito melhor economicamente e a minha família acabou por ser prejudicada por isso. Mas compreendo quem quer, hoje, ganhar dinheiro, porque amanhã ninguém se lembra de nada".
Qual foi a razão para sair do Sporting? Sérgio Malheiro, Franca
"Como jogador, saí porque houve um treinador que chegou ao
Sporting e disse que não contava comigo. Falo de Keith Burkinshaw. Mas
isso permitiu-me ainda jogar num grande clube, o V. Setúbal e iniciar a
carreira de treinador nesse clube. Como treinador, recordo que deixei o
Santa Clara no 1.º lugar da 2.ª Divisão de Honra, porque recebi um
convite de Luís Duque e os dirigentes do Santa Clara me disseram para
aceitar, porque se tratava de uma oportunidade única e, ainda para
mais, era o meu clube. Eu fui de olhos fechados para Alvalade e hoje
reconheço que fiz a maior asneira da minha vida. Fui por amor ao
Sporting, sem falar de contratos, nem nada. E depois houve o
aproveitamento dessa situação, porque sabiam que eu era incapaz de
meter o Sporting em tribunal".
Se o Manuel fosse agora jogador quanto é que pensa que valia?
Qual foi o dia mais feliz que teve como jogador?
"O primeiro dia em que vesti a camisola do Sporting foi marcante e inesquecível, porque foi um sonho cumprido. Outro dia muito feliz foi quando venci primeira vez o campeonato pelo Sporting, curiosamente frente à U. Leiria na última jornada. Em 1979/80. Foi uma coisa do outro mundo".
Qual o treinador que mais o marcou e porquê?
"Malcom Allison foi fabuloso. O Sporting teve sucesso porque ele
conseguiu ter um grupo, independentemente de um jogador jogar ou não.
Transmitiu-nos coisas muito importantes, até para a nossa vida pessoal.
Foi um homem que me marcou. Bobby Robson era único. Apesar da idade, a
alegria que ele transportava para o trabalho, os métodos inovadores,
era espectacular. Dos portugueses, Manuel José sabe muito de futebol,
mas diferente dos outros em termos de trabalho de campo. No Sporting
não foi feliz, mas há uma coisa a que fica, indelevelmente, marcado,
tal como eu: os 7-1 ao Benfica!".
Gostaria que me desse o seu 11 entre todos os jogadores que passaram pelo Sporting até hoje...
O que significa para si Sir Bobby Robson?
Seria capaz de treinar Benfica ou FC Porto?
Manuel Fernandes: «Também seria favorável a Hulk na Seleção»
Vê com bons olhos a naturalização e consequente convocação do atleta Liedson para a Selecção Nacional?
"Tudo o que seja jogadores que possam ajudar Portugal, são bem-vindos. Sou favorável à entrada do Liedson, tal como seria se, por exemplo, o Hulk se quisesse naturalizar e jogar pela Selecção..."
Considera que
Portugal tem condições para ir ao Mundial? E como explica os últimos
jogos de Portugal com uma prestação tão fraca e medíocre?
"Estou convencido que Portugal vai ganhar à Dinamarca e,
nesse sentido, o jogo mais difícil será na Hungria. Penso que vamos
discutir o segundo lugar ou, talvez, o primeiro com a Hungria. Portugal
raramente perde na Dinamarca e a estatística também conta".
Como analisa os casos de corrupção no desporto português que vão a tribunal e ficam impunes?
Qual é o melhor treinador da actualidade?
Se não tivesse tido o privilégio de ser jogador e treinador de futebol, o que gostaria de ter como profissão?
João Paulo Viveiros, Santiago do Cacém
Acha que o Carlão, no próximo ano, vai para um grande clube?
"Se ele mantiver a humildade, tiver vontade de aprender e se mantiver este ritmo, não tenho dúvidas nenhumas que sim".
O que pensa da actual situação do Estrela da Amadora?
In "www.record.pt"
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