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Jardel. "Luto diariamente para não me entregar ao diabo" PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Segunda, 16 Novembro 2009 22:23

091116_jardelSupermário está em Portugal. Como actor. Mas ainda quer ser protagonista no relvado. No FC Porto ou no Sporting.

 

Jardel está em Portugal a convite de uma produtora de cinema. Querem fazer um filme com ele mas não sobre ele. Jardel, cuja vida dava um filme, diz-se recuperado do passado de drogas que assumiu. Recebe o i no quarto de hotel onde está hospedado. Lá dentro estão a mulher e a mãe. As duas assistem à entrevista do homem a quem chamaram Super pelos golos que marcou. E que quer continuar a marcar, "quem sabe no Sporting, ao lado de Liedson." Deitado na cama, Jardel sonha alto, com a voz arrastada de quem já teve a vida por um fio.

O que o traz a Portugal?

Vim ver os meus filhos, conciliando com um convite que tive para fazer um teste para um filme sobre futebol em que sou a personagem principal.

Jardel no papel de Jardel?

É. Sobre futebol. Não é sobre a minha vida mas tem episódios da minha vida.

Como é regressar cá?

É uma alegria enorme. É um país que me ajudou a tornar o meu nome muito grande. O nome do Jardel tem muito peso. Sinto o carinho das pessoas por aquilo que fiz, que não foi pouco. Por seis vezes, fui o melhor marcador de Portugal e, por três, o artilheiro da Europa. Três, não duas, porque considero que me roubaram uma. Tribota de ouro!

Basicamente, o Jardel era o maior em Portugal. Que aconteceu para se perder?

Bom, problemas pessoais. Já passou. Todos sabem o que aconteceu comigo. Só quero falar de coisas boas.

Então e que coisas boas foram essas?

Oh! As comidas, o carinho dos portugueses, os golos.

Drulovic disse que foi o melhor cabeceador que já viu.

Sim. No passado, fui um dos melhores cabeceadores do mundo, senão mesmo o melhor. É bonito ouvir isso. Aperfeiçoei-me muito durante a minha carreira. O sucesso não vem à toa. Ficava sozinho a treinar e a trabalhar para ser cada vez melhor.

Tinha algum íman? É que a bola ia sempre ter consigo.

Era um dom. E sorte também. Mas a sorte procura-se.

Uma vez mais, que aconteceu?

Olhe, tenho pena de não me terem dado outra oportunidade nos clubes por onde passei. Que clubes? O FC Porto e o Sporting, claro.

Tentou regressar a esses clubes?

Estou a tentar ainda!

A tentar ainda? Que idade tem?

Estou com 36 anos.

Pensa jogar ainda?

Mais dois anos, pelo menos.

Onde joga agora?

Num 'time' da 3.a divisão cearense. Eu era jogador e também servia de olheiro, a tentar enviar jogadores cá para a Europa. Mas o clube não se classificou para as finais. Continuo a treinar todos os dias, no ginásio. Tenho propostas do México e de outros países.

E em Portugal, não?

Se vier um convite de um 'time' bom, cá estou! Porque é preciso a bola aparecer lá dentro para eu poder marcar. Num 'time' melhor, terei mais oportunidades para fazer mais golos.

Como é que se define como jogador?

Sou um matador. Sou que nem uma bananeira, plantado dentro da área. Dentro dela, sou o melhor. Tenho o dom de fazer o golo e isso não pode ser desprezado.

E essas qualidades continuam intactas?

Sem dúvida nenhuma! Até porque nunca tive lesões, sou um jogador sem problemas desses. Se estivesse num clube grande de Portugal, estava na briga para ser o melhor marcador. E mesmo da Europa. Disso não tenho dúvida. Se me colocarem num clube grande, eu resolvo. Quero jogar até aos 39 anos.

Saiu do FC Porto para o Galatasaray e depois voltou a Portugal. A Turquia foi uma boa experiência?

Claro. Tinha um salário milionário, marquei na Supertaça Europeia e fui o artilheiro do campeonato turco. Portanto tudo correu bem.

E depois do Galatasaray? Porque não rumou a um grande da Europa?

Não deu certo no Marselha porque havia gente que queria dinheiro nestas transferências.

Ficou triste por vir para o Sporting?

Não, claro que não. Assim que cheguei ao Sporting, falei com o presidente [Dias da Cunha] e disse-lhe que o clube ia ser campeão e eu iria ser o melhor marcador em Portugal e na Europa. Disse-lhe: "Bota aí no contrato que isso vai acontecer."

Teve prémios por isso, claro.

Claro que sim.

Mas veio ganhar muito menos para o Sporting do que aquilo que ganhava na Turquia, não?

Basicamente, quase metade.

Porque se sujeitou a isso?

O Galatasaray queria vender-me porque precisava de dinheiro. E eu facilitei a saída até porque tinha um contrato com mais cinco anos com o clube.

E lá encontrou João Vieira Pinto.

Que grande relação tive eu com ele! Um verdadeiro cavalheiro dentro e fora do campo.

Sabe que ele é comentador da RTP?

Sei, sei! E faz boa figura! Quem sabe um dia eu possa estar outra vez ao lado dele [sorriso].

No Sporting, marcou golos atrás de golos, foi o melhor da Europa e ainda assim ficou de fora do Mundial-2002.

Fui artilheiro de Portugal, da Europa e do mundo e o Scolari não me levou.

Ficou ressentido?

Fiquei, muito. Mas enfim, já passou. Agora, eu devia ter ido por tudo o que fiz! O que tinha mais a provar? Se fosse português, não acha que iria? Foda-se [gargalhada]...

Foi aí que começaram os problemas pessoais?

Ajudou, ajudou a ficar pior. Não queria tocar muito nesse assunto. Não quero falar disso, para não ficar triste.

Mas esses problemas já acabaram? Já está tudo para trás? Curado de todos os males?

Tenho que tocar a bola para a frente.

Mas passou uma fase péssima, de depressão profunda.

Passei, passei, como o Enke passou, por exemplo. Mas nunca cheguei àquele ponto de..

Qual ponto? Suicídio? Passou-lhe alguma vez pela cabeça...

[interrompe] Chegou a passar mas [faz um gesto rápido com a mão sobre a testa, emitindo o barulho de um avião a descolar] fugia logo da minha cabeça. "Não posso ser tão fraco", dizia eu. Não podia cair na fraqueza, no Diabo. O Enke entregou-se ao Diabo, foi uma fraqueza. Não se pode entregar a vida assim, não. Tive de reagir, melhorar os meus defeitos, porque se nos entregamos, vamos mesmo para o buraco. Foi difícil. É difícil. Eu luto diariamente.

Perdeu muito dinheiro no percurso?

Sobre a minha vida particular não falo [fecha o rosto]. Hoje estou bem de saúde. Não me falta comida. Se perdi dinheiro ou não, é um problema meu. Percebo que tenha de fazer essa pergunta. Mas também tem de aturar esta minha resposta [sorriso].

Mas chegou a ter tudo e de repente...

Faltou-me carinho de algumas pessoas. Quando estive mal, as pessoas que estavam ao meu lado desapareceram.

Culpa de falsas amizades?

Eu apareci de repente e fiquei dez anos no topo. Poucos jogadores conseguem isso. E, durante esse período, houve muita gente a aproximar-se de mim. Gente que, afinal, não era assim tão amiga, que tentou aproveitar-se de mim. Não houve respeito por tudo o que fiz no futebol. Merecia outra oportunidade. Fecharam--me as portas. Mas, pronto, aprendi à minha custa que isso é normal futebol. E não quero falar muito disso. Não quero ficar triste. Sou um cara com muito alto--astral e reajo muito depressa [bocejo].

Está cansado?

Xi... Cansado "pa caramba". É do ginásio. Não posso perder a forma. O meu negócio é golo, tenho de estar preparado!

Lembra-se dos melhores golos que marcou em Portugal?

Lembro, lembro. Contra o Campomaiorense, outro que marquei de pontapé de bicicleta de fora da área, no Dragão de letra, na Luz, pelo Sporting, um golo que matei a bola no peito e rematei de primeira. Marquei grandes golos. Mas também marquei golos em competições europeias. Com o Galatasaray, ao Real Madrid, pelo FC Porto ao Real Madrid, ao Milan e ao Bayern. São golos que marcam a carreira e as pessoas não me esquecem.

Porque não chegou a um grande da Europa?

Não sei... Pergunto-me até hoje o que aconteceu. Houve gente a atrapalhar no meu caminho. Acho que o dinheiro foi um obstáculo. Tive a hipótese de jogar no Real Madrid, Barcelona e Bayern. Nunca fui e não sei porquê. Pelo que fiz, merecia ter ido para um desses clubes. Olha, pergunta aos presidentes do Sporting e do FC Porto porque não cheguei a um grande da Europa!

Tem acompanhado o momento do Sporting?

Tenho, sei que não está nada bem e que os adeptos andam a exigir muita coisa. Mas é normal. Num clube grande, cobra--se muito. Olha, até me via a jogar no Sporting agora, com o Liedson a movimentar-se na área e eu a meter a bola lá dentro!

O que pensa sobre o facto de os jogadores brasileiros entrarem na selecção portuguesa?

Acho natural. Eu só não tive essa alegria porque tinha sido campeão do Mundo de sub-20 na Austrália em 1993.

A Federação portuguesa chegou a falar consigo?

Falou, falou. Mas não dava, não é? Foi pena... Vejo o Liedson, Pepe, Deco. O Jardel seria titular absoluto da selecção portuguesa. Não teria dúvida. Ainda para mais com o Felipão [Scolari]. Tinha ido a dois campeonatos do mundo. E com o Figo a cruzar para a minha cabeça...

 

“O melhor jogador com quem joguei? Jesus Cristo!”

Qual o melhor jogador com quem jogou?
Jesus Cristo, ele é que me ilumina sempre dentro de campo. Mas Drulovic e João Vieira Pinto foram aqueles com quem me dei melhor.
E o defesa mais difícil que enfrentou?
Todos fáceis. Fugi a todos eles e marquei golos.
E o guarda-redes mais espectacular?
Vítor Baía. Nos treinos era complicado passar por ele. “Eu te conheço Mário! Sei onde é que vais meter a bola”, dizia o Baía [risos].
Quem é o melhor jogador do Mundo?
É o Jardel! ‘Tá rindo? [gargalhada]. Bom, agora a sério. É o Messi, à frente do Cristiano Ronaldo e do Kaká. Acho que ele é mais decisivo.

 

In ionline.pt


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