Sábado, 13 Setembro 2008 22:00 |
RECORD – Quer explicar-nos como aconteceu a transferência para o Sporting?
HÉLDER
POSTIGA – O Sporting já tinha tido interesse. Este ano eu era uma
aposta não só do treinador como da direcção e tinha a vantagem de estar
no último ano de contrato, o que me permitia assinar por qualquer clube
em Dezembro. Mas as negociações não foram fáceis. Nunca é fácil
negociar entre clubes grandes. Ainda bem que tudo se resolveu. Estou
muito feliz. Sair do FC Porto para o Sporting é sair de um grande para
outro grande. Era isso que eu pretendia. Por outro lado, desejava mais
estabilidade. Tenho 26 anos e posso jogar mais alguns anos ao mais alto
nível. O Sporting pode oferecer-me isso tudo. Oferece estabilidade e
permite lutar por títulos.
R – Esse namoro antigo de que falou data de quando?
HP – Aconteceu há uns dois anos. Lembro-me que se falou na troca de jogadores, mas o FC Porto nunca equacionou negociar.
R – Este ano chegou a alvitrar-se a hipótese de Vukcevic entrar no negócio…
HP
– O que me interessava é que o Sporting resolvesse a questão e tivesse
vantagem na contratação. Os contornos do negócio pouco me preocuparam.
Sei que existia também o interesse do Panathinaikos e eu nunca – não
faz parte do meu feitio – pressionei ninguém para sair ou vender.
Deixei andar. Se o FC Porto decidiu negociar, foi porque não estava
interessado na minha continuidade.
R – Quando estava com a Selecção em Óbidos já sabia que podia assinar?
HP
– Sabia que as negociações com o Sporting não iam ser fáceis e nessa
altura jogou-se a final da Taça entre os dois clubes. Nunca seria fácil
nessa fase, mas o FC Porto não complicou muito as coisas. Foi bom.
R – Qual é a sensação de ter vindo para um dos maiores rivais do FC Porto?
HP
– No início é um pouco estranho. Nunca me imaginei num clube rival, mas
aos poucos as coisas vão-se ultrapassando. Está tudo a correr bem, as
pessoas tratam-me bem e isso faz com que goste cada vez mais do
Sporting.
R – Derlei disse que iria encontrar um balneário e um
estilo de trabalho distintos daqueles que tinha no FC Porto. São
diferentes em quê?
HP – São questões tão internas e específicas que
é difícil explicar. Só vivendo por dentro. Os próprios directores fazem
com que a mentalidade seja mais fechada ou mais aberta. Mas a
mentalidade de vencer é a mesma.
R – As diferenças podem estar nas cidades, nos adeptos, em todo o envolvimento?
HP
– Sim. Lisboa tem dois grandes clubes. No Porto, neste momento, há um e
a cidade é do FC Porto. Do Boavista são cada vez menos, porque o clube
está numa situação difícil.
R – Este contrato dá-lhe a tranquilidade necessária para relançar a carreira?
HP
– Era disso que eu estava à procura. Não queria ser novamente
emprestado. Já quando fui para a Grécia, tratou-se de uma situação de
recurso. Ninguém gosta de andar a saltar de um sítio para o outro. Este
contrato veio no momento certo para ter estabilidade não só a nível
profissional como a nível emocional e familiar.
R – Voltou a sentir-se desejado?
HP – Também. É essencial para um jogador sentir-se bem e trabalhar com mais vontade.
R
– Octávio, o treinador que o lançou, diz que você sentindo confiança
mantém níveis altos e grande estabilidade. Foi essa confiança que veio
encontrar?
HP – Sinto-me confiante. Há é momentos em que me retiram a confiança. Com isso é que não é fácil conviver.
R – Quem lhe retirou confiança?
HP
– Algumas pessoas. Não digo que não me deixaram crescer, mas não me
deram apoio quando mais precisava. Um desses momentos aconteceu na
primeira época de Jesualdo Ferreira no FC Porto. A equipa estava a
jogar bem e em 1.º lugar e de um momento para o outro fui preterido.
Não se pode fazer uma análise por 2 ou 3 jogos e quando pensava que
podia melhorar deixei de jogar.
R – Está magoado com Jesualdo Ferreira?
HP
– Não sei se foi o Jesualdo a estar por detrás disso, mas é estranho
que aconteça ao melhor marcador do campeonato. Caí de repente no
esquecimento por não ter feito golos em 3 jogos seguidos.
R – Mourinho foi um dos que lhe retiraram confiança?
HP
– Não. Se calhar até me deu confiança. Ajudou-me. Quando um jogador é
jovem e tem uma ascensão rápida, sente-se perfeito. Eu pensava que não
tinha erros. Não ouvia as pessoas e não corrigia determinados aspectos.
Hoje tenho de ser sincero e reconhecer que errei, mas estou mais
maduro. Ouço conselhos e sou mais ponderado nas decisões. Com a idade,
aprendi a crescer e a ouvir
R – Quer dizer que esse problema está ultrapassado?
HP
– Aprende-se com as experiências e essa com o Mourinho foi uma delas.
Por outro lado, as pessoas não vivem sempre com o mesmo rótulo. O
Hélder com 18 anos não é o mesmo aos 26. Tinha a fama de ser arrogante
e vaidoso, mas as pessoas mudam. Hoje sou muito mais calmo. Sou pai e
isso ajuda-me a ser mais ponderado nas decisões. Estou diferente.
R – Sente que já não tem a imagem do “menino mimado” e do “bom rebelde”?
HP
– Esses foram os rótulos que tive todos estes anos. É complicado mudar
uma imagem quando ela está instalada, mas as pessoas tentam melhorar e
não podem viver sempre com o mesmo rótulo.
R – Está diferente como jogador, mais solidário com o colectivo?
HP
– Quando se joga a alto nível, vai-se aprendendo e tentando guardar os
aspectos positivos. Ser solidário é uma forma de estar bem integrado
num grupo.
R – Como ponta-de-lança, qual a meta em termos de golos esta época?
HP
– Um avançado vive de golos e quantos mais conseguir, melhor para si e
para a equipa, mas o principal objectivo este ano é ver o Sporting
campeão.
R – Ainda assim, precisou de poucos minutos para marcar...
HP – É bom para quem está a começar e precisa de confiança. Senti uma satisfação enorme.
R – A vontade de se fixar no onze é grande?
HP
– Comecei mais tarde e havia uma estrutura definida do ano anterior.
Não é fácil entrar no núcleo duro. Cabe-me ganhar espaço com calma. Fui
submetido a uma operação. Tenho de pensar no trabalho passo a passo.
R – Partiu em desvantagem?
HP – Não me vou defender com esse argumento. Comecei com limitações, mas sei até onde posso ir.
R – Falando do ataque, sem Liedson, está a entender-se melhor com quem?
HP
– Nem sempre temos a percepção lá dentro. Mas é normal que conheça um
pouco mais do Derlei e saiba melhor o que pode sair dali.
R – A concorrência está a ser maior do que esperava?
HP
– Não. O Sporting tem um plantel de 25 jogadores, quase todos
internacionais ou de muita qualidade, o que ajuda o grupo e dificulta a
tarefa do treinador. Agora vamos entrar num ciclo em que jogaremos
domingo-quarta, com castigos e lesões, e haverá espaço para todos. O
importante é estar ao melhor nível quando for chamado á competição.
R – Já estava à espera que Yannick explodisse?
HP
– Não é surpresa. Nem ele nem outros. O único do plantel que não
conhecia e surpreendeu-me pela positiva foi o Carriço. Dentro de poucos
anos será dos melhores centrais do futebol português. O miúdo é bom.
R – Têm boa relação?
HP – Ele jogou no Chipre e diz algumas palavras em grego. É natural que às vezes possa estar na palhaçada com ele [risos].
R
– Nos treinos, é descontraído e percebe-se que gosta de trocar
“galhardetes” com os companheiros de equipa, como Tonel. Já se sente em
casa?
HP – Faz parte da minha maneira de ser. Gosto de deixar as
pessoas à-vontade. É saudável. Fui criado assim. Depois, há jogadores
com quem temos mais confiança para “pegar”. Como já conhecia o Tonel,
porque joguei com ele quando éramos miúdos, tenho mais confiança com
ele.
R – Com quem partilha quarto nos estágios?
HP – Varia. Na Academia é com o Caneira.
R – Paulinho já é um aliado e amigo. Ele é peça importante no grupo?
HP
– Sim, pelo ambiente e pela alegria que traz para dentro do balneário.
Às vezes é importante, porque não acordamos bem dispostos todos os dias.
«Sou leão»
R – O golo de Braga foi especial e dedicou-o ao seu pai. Porquê?
HP
– Tinha-lhe dito que ia marcar um golo para lhe oferecer no dia de
aniversário. Os meus pais têm sido muito importantes e sou muito
próximo deles. Foi uma forma de agradecer os bons e maus momentos que
têm passado comigo.
R – Há sportinguistas lá em casa?
HP –
Tenho um irmão que é um troca-tintas. Ele cresceu e eu pertencia às
camadas jovens do FC Porto. Agora que estou no Sporting, já é
sportinguista.
R – É verdade que você era benfiquista em pequeno?
HP
– Numa família de benfiquistas, é normal que tenha seguido os passos.
Depois, fui muito novo para o FC Porto e aprendi a gostar do FC Porto.
Mas o meu clube de sempre é o Varzim, é o único de que sou sócio. Neste
momento, sou do Sporting e do Varzim. Gosto mais do Sporting a cada dia
que passa.
R – Já se sente sportinguista?
HP – Sou leão. E sou de signo Leão.
R – Que opinião tem de Filipe Soares Franco, Miguel Ribeiro Teles e Pedro Barbosa?
HP
– Soares Franco está sempre presente, nos bons e nos maus momentos, e
considero isso importante. Não se deve aparecer só ou quando a equipa
está mal ou quando está bem. O mesmo acontece com Ribeiro Teles e Pedro
Barbosa. Também estão sempre presentes e têm uma ligação muito forte ao
balneário e aos jogadores.
R – Em Braga, comemorou o golo com Pedro Barbosa…
HP
– É uma pessoa de quem eu me sinto próximo. Tenho uma relação próxima
com ele. Foi importante na minha vinda para o Sporting. Foi o primeiro
a falar comigo sobre essa hipótese.
R – Depois de 2 meses e meio de trabalho com Paulo Bento, que impressão tem do treinador?
HP
– É uma pessoa muito directa, que tem os seus métodos de trabalho e é
muito frontal naquilo que pensa e quer. E isso é uma base para se ter
sucesso. Ele fez questão de estar na minha apresentação. A atitude, não
só dele como de outros, foi importante. Senti que fizeram um esforço
porque queriam estar presentes. E quando se chega a um clube é
importante conhecer as pessoas e sentirmo-nos integrados.
R – Como acompanhou o caso espoletado pelo facto de João Moutinho ter dito que pretendia abandonar o Sporting?
HP
– Se ele afirmou isso, se era o que ele pensava no momento, depois
também já disse o contrário, ou seja, que está de alma e coração no
Sporting. Devemos pedir responsabilidade ao jogador, mas ao mesmo tempo
pensar nele. Foi um acto que não aconteceu no timing certo, mas já está
tudo sanado.
R – Caneira disse que esse episódio abalou o balneário. Também sentiu isso?
HP
– Quando surgem situações dessas, é normal que sejam comentadas. Nem
que se ouça falar baixinho, acaba-se por pensar: “De certeza que está a
falar daquilo”. Percebe-se sempre um burburinho. No futebol, é normal
sentirem-se … vibrações [risos].
R – Acha que era possível um capitão do FC Porto ter a mesma atitude?
HP – Não quero responder a essa pergunta.
R – Quem geriu melhor as situações: o Sporting, com Moutinho, ou o FC Porto, com Quaresma?
HP – Geriu melhor o Sporting, porque ficou com Moutinho.
R – Detendo-nos no Sporting, como classifica o balneário e o ambiente no grupo?
HP
– Tem sido fantástico. O balneário quando se ganha é sempre fantástico
[risos]. Mas é essa a minha impressão. Há uma mescla de jogadores mais
experientes com jovens formados na Academia. O segredo de um grupo é
encontrar jogadores que tenham o mesmo objectivo e remem para o mesmo
sítio. No Sporting, o que encontro é isso. As pessoas querem todas o
mesmo objectivo, querem ter sucesso, querem que o Sporting seja
campeão. É dos melhores da minha carreira. Na época da vitória na Taça
UEFA, no FC Porto, também tínhamos um balneário fantástico. O que vim
encontrar aqui faz-me lembrar um pouco do espírito que vivíamos no FC
Porto.
R – Pela negativa, o jogo de Madrid foi o primeiro grande teste ao balneário?
HP
– É uma lição para todos. Para quem jogou e para quem não jogou.
Estávamos galvanizados e quando as coisas correm bem é normal que se
encha um pouco mais o peito. Mas isso fez-nos cair na realidade e
pensar que se calhar não somos tão bons e também cometemos erros. Estas
derrotas ajudam-nos a crescer. Até podemos pensar que estamos bem e que
vai ser difícil ganhar-nos, mas se não entrarmos com seriedade, se não
tivermos vontade de vencer, é natural que haja mais desaires desses.
R
– Madrid pretendia antecipar os ciclos de 2 jogos por semana e o
primeiro começa em Barcelona; na Liga, seguem-se Belenenses, Benfica e
FC Porto. A equipa está preparada?
HP – É um ciclo difícil mas bom.
Complicado porque vai colocar-nos à prova e exigir do grupo uma
mentalidade forte. Bom porque, sem tirar valor aos restantes, os jogos
da Champions e os dérbis são aqueles em que todos gostam de participar.
R – Estes jogos com o Barcelona e o Benfica podem ser decisivos no sentido de embalar a equipa para uma época muito boa?
HP
– Não se pode resumir uma época de 50 jogos a 2. Não se pode fazer esse
tipo de juízos ou avaliações em Setembro. Eu acredito que os
adversários partilhem do pensamento que o Sporting está forte, porque
têmo-lo demonstrado em campo. Não é só de boca, como dizem alguns;
estamos fortes. Mas não vamos resolver a época em 2 jogos.
R – Deixou perceber que o Sporting, por ter conquistado a Supertaça, era o mais forte candidato ao título. É assim?
HP
– Não é o mais forte. Os candidatos são três. O que me perguntaram foi
se o Sporting era um sério candidato. Ora, se o campeão foi o FC Porto
e se nós ganhámos ao campeão na Supertaça, parece-me que temos um pouco
mais de percentagem…
R – Pela sua experiência, o que é preciso para se ser campeão?
HP
– Como disse, é importante ter bom balneário. Não é fácil ter um grupo
de 20 e tal jogadores, onde há 11 felizes, 7 mais ou menos e o resto
está com azia. É complicado. Saber gerir um grupo não é assim tão fácil
e isso faz com que um dos ingredientes para o título seja esse. Depois,
há que ganhar jogos e ter estabilidade durante o campeonato.
R – Qual é o adversário que mais teme, Benfica ou FC Porto?
HP
– Por vezes somos nós próprios o nosso pior adversário, porque temos de
lutar contra as nossas adversidades. Estão os dois muito fortes, mas
quando menos esperamos o perigo está lá e perdemos pontos contra quem
não imaginávamos.
Hélder Postiga: «Selecção está em segundo plano»
CONFESSA QUE TEM A CABEÇA APENAS NO SPORTING
RECORD – Yannick mereceu a chamada à Selecção?
HÉLDER POSTIGA – Mereceu. Pelo que fez na Supertaça e pelo nível que tem exibido. Dei-lhe os parabéns.
R – Desiludiu-o o facto de não ter sido convocado nestes primeiros jogos?
HP
– Não. O meu objectivo é estar bem no clube. Quero ajudar a equipa,
conquistar o meu espaço e crescer como jogador. Para o seleccionador,
os jogadores que ele convocou são os melhores de Portugal e os que lhe
dão mais garantias. Cabe-me trabalhar para modificar essa opinião. Não
vou ficar revoltado, porque respeito as decisões.
R – A Selecção está num segundo plano?
HP – Neste momento está. Tenho a minha cabeça apenas no Sporting.
R – Mas pensa estar presente no Mundial?
HP – Seria hipócrita se dissesse que não gostava de jogar a Champions para o ano ou não estar numa grande competição.
R – Também sem hipocrisias, sente que tem lugar nesta Selecção?
HP – Neste momento?
R – Sim.
HP – Neste momento acho que preciso de estar melhor a todos os níveis. Preciso de estar bem para ter o meu espaço no Sporting.
R – Que opinião tem de Carlos Queiroz?
HP – Fez bom trabalho nos Sub-20 e com a chamada “Geração de Ouro”. As referências dele são as melhores.
R – E Scolari? Deixa saudades, a si e ao futebol português?
HP
– A mim deixa, porque me ajudou imenso. Estaria a mentir se dissesse o
contrário. Conseguiu coisas fantásticas para Portugal. Ajudou-nos
imenso a crescer no futebol.
«Estava ‘morto’ no FC Porto»
R – O que pensa ter falhado nas suas passagens pelo estrangeiro?
HP
– Não considero que tenha falhado no Saint-Etienne e no Panathinaikos.
Foram campanhas de recurso. Estava ‘morto’ aqui, no FC Porto. Estive um
ano no Saint-Etienne. Depois, cheguei como jogador-chave, com
Adriaanse, mas passado uns meses estava na equipa B. No Panathinaikos,
a mesma coisa. Mas queriam que eu continuasse e as coisas correram bem.
Só no Tottenham, quando tinha 20 anos, é que posso ter falhado, mas
lembro que o treinador, Glenn Hoddle, saiu à 6.ª jornada, e foi ele que
deu o aval para a minha contratação. David Platt, que o substituiu, era
contra as aquisições que ele tinha promovido. Todos os jogadores que
estavam nessas circunstâncias, como Kanouté, Dalmat, etc, tinham
tratamento diferente.
R – Sente vontade de regressar um dia ao estrangeiro?
HP
– No futebol não se sabe o que vai ser o dia de amanhã. Acredito que um
dia ainda possa lá voltar. Não é um objectivo. Se estiver feliz num
clube, não vou mudar. Se continuar feliz como estou no Sporting neste
momento, quero é ficar aqui por muitos anos e ganhar títulos.
«Se há coisa que não gosto de comentar é a arbitragem»
R – O Sporting tem sido crítico com a arbitragem. Tem razões de queixa?
HP
– Se há coisa que não gosto de comentar é a arbitragem. Todos erramos.
Mas não é fácil estar dentro de campo e acontecer um caso como aquele
do Polga, no jogo com o Trofense. Como jogador, fico revoltado. Depois,
mais a frio, tem de se pensar que o árbitro não fez por mal. É isso que
quero pensar. Temos de ser mais frios na análise aos árbitros.
R – Sente que existe hostilidade com o Sporting? Há diferenças, por exemplo, em relação ao FC Porto?
HP – Não. Acho que nenhum árbitro tem esse tratamento diferenciado. Podem é simpatizar mais com um jogador ou com outro.
«Há quem não me possa ver nem pintado de ouro»
R – Um jogador vive do carinho dos adeptos?
HP
– Quando se vai ao teatro e não se aplaude o actor, ele fica a pensar
que não vale nada. Passa-se o mesmo com um jogador, se vai ao estádio e
não recebe aplausos, se não sente o incentivo e o carinho das pessoas.
Quem disser o contrário está a mentir.
R – E como é o público do “teatro” de Alvalade?
HP – Até agora não tenho motivos de queixa. A acústica do estádio também é boa [risos]...
R – Como pensa que vai ser recebido pelos adeptos do FC Porto quando jogar no Dragão?
HP
– Não faço a mínima ideia. Sei que há muitas pessoas do FC Porto que
gostam de mim, disso não duvido. Mas também sei que há outras que me
detestam. Há gente que não me pode ver nem pintado de ouro. São os que
me chamam arrogante e vaidoso.
«Quando posso ainda vou à pesca»
R – O seu irmão José já fez férias na Academia. O Sporting é o clube ideal para ele?
HP
– Penso que sim. A Academia tem excelentes condições para os miúdos. Já
lhe dei conselhos e disse-lhe que esta vida não é fácil. Eu tive a
sorte de me tornar profissional de futebol, mas vivi para ele entre os
12 e os 18 anos. Não saía ao sábado à noite, fui perdendo os meus
amigos de Vila do Conde, perdi muitas vezes a presença dos meus pais
para oferecer tudo ao futebol.
R – Teve de deixar de estudar?
HP
– Aos 15 anos. Não conseguia conciliar os estudos com o futebol. Nesse
ano reprovei por faltas, porque estive num Campeonato da Europa de
Sub-16 na República Checa. Estava no 10.º ano. Ajudava o meu pai
durante o dia e à noite ia treinar.
R – O que recorda dos tempos em que ajudava o seu pai na faina?
HP
– Ajudava-o lá nas redes do armazém e depois ia treinar. Tenho saudades
desses tempos, porque adoro o mar, a pesca e vivia tudo isso com muita
intensidade.
R – A pesca é ainda um passatempo?
HP – Adoro
pesca de mar e quando posso aproveito. Se não fosse futebolista, o mais
certo era ser pescador. Numa família e numa cidade de pescadores, não
há muitas outras opções.
R – Conta-se que um dia apanhou com o seu pai mil cabazes de sardinha. É verdade?
HP
– Lembro-me que tinha uns 7 anos. Fui para o mar com o meu pai e
passámos um daqueles dias memoráveis. Enchemos o barco de sardinhas.
«Admiro Michael Jordan»
Tatuagens. “Tenho. De pessoas de quem gosto muito.”
Fé. “Benzo-me antes dos jogos. Sou cristão.”
Número
23. “Para mim, é mágico. Era o mesmo de Michael Jordan
[ex-basquetebolista, da NBA]. Admiro-o. Ele é, se não o melhor, um dos
melhores desportistas de sempre.”
Ídolo. “Van Basten. Nele, admirava tudo. A elegância… Não mudava nem as unhas.”
Referência. “Ibrahimovic roça a perfeição, é fantástico. Considero-o muito parecido com Van Basten.”
“O Carteiro”. “No Tottenham tinha essa alcunha [Postman] porque na pré-época fui o melhor marcador e fiz várias assistências.”
Apito Final. “Não percebo nada disso.”
Penálti “à Panenka”. “Se repetia? É melhor não dizer nada porque podem ficar atentos.”
Cidade. Vila do Conde
País. Portugal
Destino de férias. Grécia
Comida. Tripas, bacalhau, rojões, cozido... “Sou bom garfo e no Norte come-se muito bem. É o único senão de Lisboa.”
Bebida. Água mineral sem gás
Outros desportos. Ténis
Carro. Mercedes SL
Jornais. “Se os tiver na Academia, leio. As notas negativas? Já liguei mais. Há muitos interesses por detrás disso.”
Filmes. Cinderella Man e Em Busca da Felicidade
Música. Mariza, U2
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