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Quinta, 28 Março 2024
Plácido e Bessone: Histórias do ´derby` que o tempo não apaga PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sexta, 11 Janeiro 2013 03:35
130111_bessoneAbraço apertado e sentido, pancadinha carinhosa na cara, mãos nos ombros, olhar intenso e fraterno, novo abraço e uma cumplicidade contagiante. Não se ouviram palavras, mas o silêncio dizia imenso: saudades de tempos inesquecíveis, de guerras que se transformaram amizades, de rivalidades que se tornaram em amizades.

António Bessone de Bastos e Plácido de Abreu, antigas glórias do andebol de Sporting e Benfica, aceitaram o convite de A BOLA e juntaram-se para recordar o derby que este sábado se realiza e que eles tantas vezes jogaram nos anos 60. Mas é difícil. A emoção não lhes permite contar tudo o que a memória lhes oferece. Preferem sorrir, lembrando diferenças para os dias de hoje, o amor à camisola de outrora, as picardias em campo, as arranhadelas em Plácido, os voos de Bessone, os pavilhões cheios, o dinheiro que não ganhavam e o grande amor que ambos sentem pelos seus clubes de eleição.



«Saudades. Sinto tantas saudades desse tempo. Saudades da camaradagem, da amizade, das pessoas que já não estão cá...», soltou Plácido, jogador que representou o Benfica durante vinte anos. Parou de falar. Sabia o que queria dizer mas a emoção atraiçoou-o. Deixou cair algumas lágrimas, os lábios tremeram, respirou fundo, limpou os olhos e continuou: «Você não tem ideia do que era o andebol no nosso tempo. Jogávamos onde calhava, em pisos duros como pedra. Íamos ao chão e ficávamos marcados. Todos, sem exceção. Mas corríamos muito, lutávamos ainda mais e só parávamos quando o jogo acabava. E nessa altura dávamos um abraço. Rivalidade no campo, amizade cá fora», explicou.

Bessone sorri. Abana a cabeça em sinal afirmativo. Diz que a camaradagem era obrigatória naquele tempo, algo que hoje, diz, é impensável. Porquê?

«Não há amor há camisola. Hoje os jogadores, e se estiver errado que me perdoem, olham em demasia para o dinheiro. Estão ali para ganhar o deles independentemente do resto. Muitos não se falam, jogam e vão embora para as suas casas. Hoje é impensável ver um jogador de Benfica e Sporting terminarem um derby e irem jantar juntos, por exemplo. Perdeu-se o espírito de camaradagem, ganhou-se maior organização. Mas eu percebo a evolução dos tempos. Se o dinheiro move montanhas, quanto mais andebolistas. Tenho um orgulho enorme na minha geração», disse o antigo guarda-redes com um estrondoso sorriso, praticamente um rugido de leão. Ele que aos 67 anos mais parece um jovem de 20.

Pavilhões cheios, que bom
Hoje é difícil encontrar um pavilhão lotado para assistir a um jogo de andebol. E até mesmo o derby tem menos assistências. Os motivos parecem fáceis de encontrar

«Havia uma situação que puxava as pessoas para os jogos. Lembro-me que as partidas do campeonato eram todas realizadas no mesmo local, quase sempre no Pavilhão dos Desportos, em Campo de Ourique. Disputavam-se quatro jogos por noite e aquilo estava sempre cheio. Além disso, existiam mais pretendentes ao título. Hoje não é assim. Infelizmente», assume Plácido. Mas há mais razões, não é assim senhor Bessone?

«Você já viu bem a rivalidade de hoje? Nós também a tínhamos mas não era estúpida como a de agora. Os campos estavam cheios porque havia respeito, a 130111_bessoneagressividade não existia e as pessoas sentiam-se confortáveis para assistir aos jogos com as famílias. Hoje há medo de ir aos pavilhões. Pode ser que mude», atirou o guardião da equipa dos «Sete Magníficos», penta campeã entre 1969 e 1973.

Sporting melhor que Benfica
Hoje espera-se um jogo tremendamente equilibrado. Ninguém duvida disso. É assim, será assim, e também já o foi nos anos 60, apesar do domínio sportinguista. Até nisso Bessone e Plácido concordam.

«Ganhámos poucas vezes ao Sporting. Tínhamos um lote de jogadores muito técnicos mas pouco expeditos no aspeto físico. Além disso, tínhamos quase sempre treinadores pouco perspicazes. Nós já sabíamos que era o Aires e o Patrício quem marcava os golos e mesmo assim não conseguíamos anulá-los. Não tínhamos força para ganhar ao Sporting», recordou, com mágoa, Plácido. Recebeu uma palmada de Bessone. Um carinho. Quase como se fosse um conforto como fizeram tantas vezes no final dos jogos que disputaram.

«O Plácido é boa pessoa. Não era tanto assim. Os jogos eram quase sempre equilibrados, muito disputados mas com enorme espírito de fair-play. Nós o que tínhamos era uma arma terrível: o contra-ataque. Eles trabalhavam muito as jogadas, mas eu defendia rápido, lançava o contra-ataque e o Brito ou o Correia decidiam os jogos. Era simples e eficaz», recordou soltando mais uma gargalhada inimitável mas contagiante.

Hoje ninguém arrisca na vitória
Se antigamente o Sporting ganhava quase sempre, hoje é mais difícil afirmá-lo com convicção. Pelo contrário. Os craques do passado, figuras do presente e futuro do andebol português garantem que o derby vai ser equilibrado. E pelo discurso de ambos... talvez dê empate.

«É difícil. Acho que vai ser equilibrado. Depende muito das figuras que possam fazer a diferença», disse Plácido. Bessone opta por outro discurso e nem quer saber do resultado.

«Equilíbrio vai haver, mas o que quero é que corra tudo pelo melhor, que não existam conflitos e que os jogadores se divirtam durante a hora do jogo. Isso é o mais importante. Sabe qual é o meu maior desejo? Que daqui a trinta anos, dois dos jogadores que vão alinhar no sábado, possam estar consigo a relembrar o derby», desafiou Bessone.

Pelo lado de A BOLA, o desafio está aceite. Daqui a trinta anos, cá estaremos para falar com Carlos Carneiro e Ricardo Dias, capitães de Benfica e Sporting esta época e recordar o derby deste sábado que será transmitido por A BOLA TV, a televisão do andebol português.

 

In www.abola.pt


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Comentários  

 
0 #1 Manuel Jorge 19-12-2014 19:34
Enviar daqui um abraço ao Sr. Plácido Abreu.

de 1964 a 1967 trabalhei como grumo, na barbearia Rosa de Maio na Rua de São Nicolau em Lisboa, em que o seu pai o saudoso Sr. João de Abreu era o sócio gerente.Estive a ver a sua fotografia e é muito parecido com o seu pai(a cara dele).

Com os meus cumprimentos.
Desejar-lhe as maiores felicidades.
Gostei muito deste momento.
Manuel Jorge
 

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