Foi com dois laterais-esquerdos e dois laterais-direitos que o Sporting carimbou a passagem à quarta eliminatória da Taça de Portugal, ante um Famalicão que, mesmo reduzido a nove, se bateu com galhardia e até merecia o golo de consolação, naquela que acabou por ser a sétima vitória consecutiva dos verdes e brancos, registo que permite a Domingos Paciência igualar a melhor série de Carlos Carvalhal, o segundo melhor registo da década . Foi assim que os leões terminaram o jogo - com Insúa, que começara a extremo-esquerdo, a lateral no mesmo flanco, Evaldo, que começara a lateral, a central (!), e João Pereira e Pereirinha a ocuparem a direita - o que explica em larga escala o carácter peculiar deste encontro, mas não foi assim que o iniciaram.
O jogo deu para Domingos poupar, gerir, até experimentar, mas não foi com poupanças em demasia que teve início, e o objectivo foi alcançado, com o Sporting a conseguir um triunfo incontestável, mesmo se conseguido sobre um Famalicão reduzido em duas unidades e sempre ciente da sua tarefa prioritária - tapar os caminhos da sua baliza - e ousada ambição - investir contra a baliza contrária.
Retomando o início: o Sporting mantinha a disposição em 4x3x3 que já faz parte do ADN deste "novo" leão, tendo André Santos a fazer de Rinaudo e Matías fernández de Elias, entregando as alas a Insúa (esquerda) e Capel (direita), sendo o eixo defensivo composto pela dupla inédita Onyewu-Carriço. Pela frente, deparava com um 4x3x3 famalicense que apostava na ocupação do meio e aposta nos flancos para explorar o contragolpe. Não era um Sporting dominador até à exaustão, mas o natural ascendente foi uma realidade desde o início, apesar das falhas no primeiro momento de transição ofensivo por parte de André Santos, que, por algumas vezes, ameaçaram investidas de perigo dos anfitriões. Ainda assim, ia-se adivinhando que era uma questão de tempo até o golo dos leões chegar, quando chegou o intervalo, já depois do mesmo André Santos fazer embater com estrondo a bola na barra.
No reatamento, reforça-se o espírito ambivalente e peculiar deste encontro. Domingos refaz a dupla de centrais, fazendo sair os lesionados Onyewu e Carriço para as entradas de Rodriguez e... Pereirinha, adaptando Evaldo ao eixo da defesa. A ousadia famalicense saiu reforçada pela entrada de renovado fulgor, após o intervalo, invertendo, por instantes, os papéis, e forçou o Sporting a período de maior contenção e cautelas defensivas, sobressaindo Boeck na baliza e Rodriguez, pela negativa, no primeiro momento de construção de jogo. Schaars mantinha-se o dínamo de toda a manobra da equipa, impondo o ritmo elevado com que o Sporting retomou as rédeas do jogo, momentaneamente repartidas. Mas foi à passagem da hora de jogo, com o derrube a Matías em zona proibitiva, os amarelos a Talocha e Jorginho e o golo de Wolfswinkel, de penálti, que ficaram desfeitas as dúvidas. Porque o Famalicão teria sérias dificuldades em conseguir iludir os leões e bater um inspirado Marcelo, para mais se, logo de seguida, ficou reduzido a dez - Jorginho viu o segundo amarelo por entrada violenta sobre Schaars - e viu Wolfswinkel reforçar a condição de goleador de eleição, subir ao segundo andar e sentenciar a partida.
O Sporting soma e segue, o Famalicão sai de cabeça erguida.
Estádio Municipal de Famalicão Árbitro: Soares Dias
FAMALICÃO: Rui Forte; Luís Miguel, Pedro Silva, Hugo Matos e Talocha; Palheiras, Jorginho e Flávio Igor; Gomis, Claro e Diop.
Suplentes: César, Jorge Miguel, João Dias, Flávio Moreno, Nélson, China e Cafu.
SPORTING: Marcelo Boeck; João Pereira, Onyewu (Pereirinha), Daniel Carriço (Rodriguez) e Evaldo; Matías Fernández, André Santos e Stijn Schaars; Diego Capel (Rubio), Van Wolfswinkel e Insua.
Suplentes não utilizados: Tiago, Polga, Arias e André Martins.
Golos: 0-1 Wolfswinkel, 0-2 Wolfswinkel
O Sporting um a um Super-Boeck e Ricky a voar
Marcelo 7
Estreia absoluta com a camisola verde e branca a demonstrar que o titular da Selecção de Portugal tem concorrência com capacidade para lhe roubar a titularidade. Não foi testado em saídas da baliza, mas entre os postes garantiu por quatro vezes - em grande nível - que os famalicenses não festejavam (aos 46', 50', 74' e 89').
João Pereira 6
Sem muito trabalho a defender, foi - mais - uma noite de subidas constantes. Teve oportunidades de entrar na ficha de jogo como assistente de golo (aos 24' Ricky desperdiçou desmarcação) e como marcador (aos 28' tabelou com Capel e foi Pedro Silva a tirar na linha), mas nem uma nem outra.
Onyewu 5
Jogou apenas meia parte, durante a qual reinou na área leonina... aventurando-se ao ataque para conquistar a da equipa adversária e, nas alturas, aos 33' e na sequência de um canto, quase inaugurar o marcador (cabeceou de cima para baixo mas com tanta força que a bola saiu... por cima!).
Carriço 5
Entrou cheio de vontade de mostrar serviço para recuperar a titularidade que detinha com estatuto de indiscutível e, dado que os leões pressionavam na primeira parte (saiu ao intervalo, queixoso), teve de galgar metros para se aproximar da bola e participar no jogo. Fez alguns cortes fruto de postura atenta, mas errou bastante no passe.
Evaldo 5
Na lateral esquerda - e com o apoio de Insúa à sua frente - não teve rival. Na segunda parte fez de central e mostrou falta de rotina, mas cumpriu.
André Santos 5
Sentiu dificuldades na transição ofensiva, estando mais acertado nas compensações defensivas e no posicionamento táctico a evitar os contra-ataques rivais. Aos 17' fez estremecer a barra da baliza defendida por Rui Forte.
Matías Fernández 6
Não brilhou mas não destoou num jogo que até era à medida do seu drible curto e mudanças de direcção, já que o Sporting pressionou e encostou o Famalicão à sua área, e o jogo precisava de um jogador-desbloqueador para resolver em pequenos espaços. E foi o que fez aos 60', ganhando o penálti que lançou os leões.
Schaars 6
Impôs o ritmo e a intensidade do jogo, facilitando a circulação de bola de forma inteligente e simples.
Capel 6
Saiu aos 75' esgotado pelas arrancadas em velocidade ao seu estilo meio "marreco" - nos dois flancos - e também pela pancada que se fartou de levar.
Insúa 5
Foi um poço de força e energia a dominar o lado esquerdo dos leões. Os seus cruzamentos só não foram letais por infelicidade dos seus colegas.
Wolfswinkel 7 Só lhe faltava marcar de cabeça e de penálti...
Este Ricky não engana, seja com que adversário for. Já tinha marcado, de bola corrida, com o pé direito e com o pé esquerdo, só lhe faltando a cabeça e... um penálti. Uma vez mais decisivo (oito golos nos últimos sete jogos), teve a frieza suficiente para enganar o guarda-redes Rui Forte de grande penalidade (1-0 aos 62') e com cabeceamento seco e sentido de posicionamento (2-0 aos 67'). Ainda podia ter marcado pelo menos mais dois golos, mas Rui Forte brilhou aos 6' a seus pés, sendo noutro lance a vez de um defesa dar nas vistas com intercepção importante a evitar o remate
Rodriguez 3
Jogo desastroso. Entrou ao intervalo e fartou-se de falhar.
Pereirinha 5
Oportunidade aproveitada com uma assistência perfeita (67') no lance que deu a tranquilidade à equipa.
Diego Rubio 3
Sem qualquer influência.
Wolfswinkel ofereceu camisola à torcida verde
Figura da partida ao apontar os dois únicos golos, Wolfswinkel celebrou a veia goleadora com a Torcida Verde. Após o apito final de Artur Soares Dias, o ponta-de-lança holandês entregou a sua camisola àquela claque leonina, no topo Sul do recinto famalicense.
In www.ojogo.pt
|