Numa conversa recente com uma antiga glória do futebol português, falava-me esse antigo craque, um dos melhores de sempre na sua posição, da sua estupefacção face ao actual endeusamento de alguns jogadores jovens, os quais, só por fazerem três ou quatro dribles com eficácia, são logo apelidados de extraordinários futebolistas, sendo de imediato noticiados como alvos seguidos pelos grandes clubes da Europa.
Dizia-me ele que nos nossos dias se esquece, neste campo, o jogador colectivo, discreto mas essencial ao funcionamento de qualquer equipa, privilegindo-se esta imagem de pequeno génio, de talento em “explosão”, a caminho de uma grande carreira europeia.
Lembrei-me desta conversa a propósito da recente renovação de contrato
entre o Sporting e o jovem Pereirinha, mais um produto da profícua
escola de Alvalade, que vai no seu terceiro ano no plantel principal,
depois de um período de empréstimo ao Olivais e Moscavide.
Pereirinha ainda não ganhou um lugar de titular nos leões, mas faz
sentido a renovação do contrato, face à aposta, gradual, que tem sido
feita nele, esperando-se que em breve o jogador corresponda, com mais
convicção, ao trabalho a que tem sido submetido. Porém, tentar
prendê-lo com uma cláusula própria dos grandes craques europeus - a ser
verdade os 25 milhões que já vi noticiados… - parece mais uma jogada de
âmbito financeiro do que propriamente uma medida em favor da evolução,
real, do atleta. Lá voltamos ao tal endeusamento de que me falava a
referida velha glória do futebol português.
Hoje em dia, por motivos certamente de mercado, a maior parte dos
jovens atletas é valorizada muito acima da realidade. Para muitos
deles, torna-se difícil “regressar à terra”. Há muitos exemplos assim.
In www.record.pt
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