Muito calor, pouca gente. Muito interesse dos visitantes num resultado airoso, relativo emprenho dos sportinguistas quanto a esse aspecto, pois a oito dias da grande final da «Taça», antes do resultado, estava a exibição que impunha afinar. Muita aplicação de Lourenço em tarde de adeus àquele estádio e pouca inspiração em certos companheiros seus, a quem o público às tantas contemplou com os sempre antipáticos (e inoportunos) assobios.
E poderíamos ir por aqui fora, nestas variações sobre quantidade, característica de um incaracterístico despique, entre um Sporting descompassado inter-sectores e um União «encolhido» logo que aos 14 minutos de jogo uma irreflectida atitude do aríete Camolas, tornou desigual na prática uma luta que em teoria, pelo menos, já o era.
Entre os 41 e os 43 minutos definiu-se um jogo que, no tempo restante, se confinou a jogadas de inspiração individual ou a movimentos curiosos de intenção construtiva por homens que se esforçaram por provar a indesmentível verdade de que não falta ao Sporting gente com talento suficiente para assegurar à equipa uma produção de jogo de nível elevado.
Ficaram-se, todavia, pela intenção. E porquê?
Porque realmente é cansativo ter a bola nos pés, olhar em redor e não ver quem se desmarque para a receber.
Este o desfasamento que notámos na esquematização dos ataques «leoninos».
Peres, Yazalde e Chico são jogadores em boa forma. Essa boa forma permite-lhes dar largas à excelente execução técnica que possuem, colocando o esférico onde querem. Mas «onde querem» não é «onde podem». Há ocasiões em que a bola, perfeitamente dominada está mesmo a «pedir» o passe, mas como entretanto toda a gente ficara parada, admirando o lance do companheiro, este é obrigado a travar o ímpeto, dando tempo a que toda a defesa contrária se reagrupe.
No caso deste jogo, refira-se que Peres foi o que desafinou mais cedo, justificando-se depois a sua substituição por Dani.
A este Sporting de dinâmica sincopada, opôs o União de Tomar uma equipa pouco ambiciosa, que continuou a retardar tempo (e jogo) mesmo a perder por 2-0. Excelente a técnica exibida por Manuel José e Calado, os quais se alinhassem do outro lado não destoavam, bem pelo contrário.
Os restantes alternaram o bom com o mau, mas Barnabé foi o melhor da defesa, como Bolota foi o pior do ataque… e da equipa. Nascimento executou portentosa defesa a grande remate de Tomé, na segunda parte.
No Sporting a defesa teve um jogo tranquilo e muito bom para facilitar a recuperação de Pedro Gomes e José Carlos. No meio-campo, de Peres já falámos. Tomé continua à procura de si próprio. Esteve pouco feliz, é certo, mas não é com assobios que se estimula um jogador que já deu sobejas provas de valia.
No ataque, além de Yazalde, cuja ascensão é notória – teve pormenores de indiscutível merecimento – Lourenço, que se despediu de Alvalade, agiu com o habitual esclarecimento, compensado com os lances dos golos e jogou com muita aplicação, justificando a forte ovação com que o público o despediu. Depois dele sair o jogo ficou mais triste…
Diniz é que esteve francamente desastrado e recebeu por isso a sua dose de assobios de uma assistência desolada com a inércia de um ataque que rematou pouco e mal.
O trio de arbitragem setubalense realizou trabalho razoável, revelando total imparcialidade no julgamento das faltas.
Na expulsão de Camolas, a árbitro agiu de acordo com a informação do auxiliar do lado da bancada. O avançado nabantino deve ter sido extremamente incorrecto, pelo que a atitude a tomar não poderia ser outra. O arrependimento do jogador, chegou tarde…»
Estádio de Alvalade, em Lisboa
SPORTING – Damas (3); Pedro Gomes (3), Laranjeira (4), José Carlos (3) e Hilário (3); Tomé (1) e Peres (1) (64m – Dani (2)); Chico (2), Lourenço (3) (55m – Nelson (2)), Yazalde (3) e Dinis (1)
U. TOMAR – Nascimento (3); Kiki (2), Dui (2), Faustino (1) e Barnabé (3); Manuel José (3), Cardoso (2) e Calado (3); Pavão (2), Bolota (1) e Camolas (1)
1-0 – Lourenço – 41m 2-0 – Chico – 43m
Cartão vermelho – Camolas – 14m
«Substituições: Aos 55 m. Nelson (2), rendeu Lourenço e aos 64 m. Dani (2), substitui Peres.
Golos – 1-0, aos 41 m. por Lourenço, a aproveitar oportunamente um cruzamento rasteiro de Tomé. 2-0, aos 43 m. golo de Chico, que soube concluir magnífica abertura de Lourenço.
http://uniaotomar.wordpress.com - (“Record”, 30.05.1972 – Crónica de Carlos Nogueira)
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