A derrota, na RDA, por 1-2, deitou tudo a perder. A vitória valeria 50 contos. Mas sem Yazalde e sem Dinis tudo se complicou. O fim do sonho nos pés de Tomé, que falhou o golo que valeria a final e chorou. «Podia ter marcado, mas tanto quis colocar a bola que...»
João Rocha, o presidente, não disfarçou a tristeza. Num gesto bonito, foi à cabina consolar os jogadores, dissendo-lhes que se sentissem de missão cumprida, porque «nunca se imaginara chegar tão longe, apesar de ter sido possível ir além, se a sorte não fosse madrasta e se... o campo não estivesse molhado».
A 24 de Abril, na RDA, o Sporting alinhou com a seguinte equipa frente ao Magdeburgo:
Vítor Damas; Manaca Dias, Vitorino Bastos, Carlos Alhinho e Carlos
Pereira (Joaquim Rocha 64 min); Vagner Canotilho (Capitão), Paulo Rocha
(Tomé 81 min) e Vítor Gonçalves "Baltasar"; Mário Mateus "Marinho",
Nélson Fernandes e Francisco Faria "Chico Faria".
Treinador: Mário Lino
Golo: Marinho (78 min)
A caminho de Lisboa, uma odisseia do Sporting. A 25 de Abril em Lisboa
conquistara-se já a liberdade. E o futuro. E, no Aeroporto de
Frankfurt, ficaram os sportinguistas reféns do golpe, a comer e a
dormir aos poucochinhos, quando em Lisboa já estava em festa e já havia
cravos nas pontas das espingardas, mas fechado continuava o Aeroporto.
A comitiva sportinguista soube, na Alemanha de Leste, do golpe de
Estado em Portugal. Era manhã e Dewitz, ponto de intercepção e de
fiscalização, antes da entrada em Berlim Ocidental, e o intérprete
avisa: « Houve um golpe de estado em Portugal».
Para Madrid teve de voar a comitiva. E de Madrid para Badajoz, de
autocarro. Em Badajoz, fronteira fechada. E já mais de 40 horas de
viagem. A custo, João Rocha conseguiu que os deixassem entrar. Joaquim
Rocha, luso-brasileiro do Sporting, quando, barba por desfazer, rosto
cerzido de cansaço, como todos os outros afinal, ao chegar a Alvalade,
38 horas após a partida de Magdeburgo, desabafou: «Uma viagem destas
não vem na Bíblia.»
In “A Bola”
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